É Nelson Rodrigues puro:
a irmã cerebral, que dá passes de gênio;
a irmã corporal, que dribla até a si mesma.
.
A cabeça lê o jogo, faz planos pras jogadas e anda ereta pelo gramado.
A corpo dança, pula, seduz, humilha, goza e saracoteia pelo baile.
A cabeça avalia os pretendentes (poucos);
A corpo desdenha dos bobos (muitos).
A cabeça reclama que o pai não lhe dá mimos, só cobranças;
A corpo requebra no colo de milhões do papai.
A cabeça lembra um craque d’outrora;
A corpo joga em video-game.
A cabeça se esforça pra sorrir;
A corpo se derrete pra qualquer um.
A cabeça diz não vamos entrar nessa;
A corpo pega o copo do marinheiro e bebe com volúpia.
A cabeça sabe o que é volúpia, mas não tem;
A corpo não sabe nada, mas é.
Isso vai dar guerra…
.
No último ato,
a irmã-cabeça está cortada
num time de segunda linha da Europa.
A irmã-corpo é estátua-viva:
PAI (apertando as bochechas):
olha só que
mito-querido do papai!